Artigo - A terrível ameaça da Lei das terceirizações
Roberto Ramalho é advogado, jornalista e blogueiro
A aprovação da lei pela Câmara dos Deputados – Ainda se
votarão os destaques para posteriormente ir para o Senado - que autoriza a
terceirização da atividade principal das empresas não porá fim a um dos maiores
problemas enfrentados hoje pelas companhias: o grande número de ações
trabalhistas contra a prática.
O texto da nova lei deixa claro que não pode existir
subordinação do empregado terceirizado ao tomador do serviço, isto é, em grande
parte os governos federal, estaduais e municipais, sob o risco de ficar
caracterizado o vínculo empregatício.
Isso significa que o trabalhador terceirizado não poderá
receber ordens diretas, cumprir metas e orientações do tomador.
De acordo com advogados trabalhistas, essa poderá ser uma
brecha para que o empregado proponha ação para pedir vínculo e equiparação
salarial com os empregados registrados da companhia.
Em editorial, o jornal O Globo defende
o projeto de lei que regulamenta a terceirização.
De acordo com um dos trechos "ao contrário do que dizem
os críticos, a nova legislação não ‘precariza’ a mão de obra terceirizada, e
regula contrato de trabalho já adotado na prática", diz o jornal.
Segundo ainda o editorial de O Globo, a nova lei contorna a querela da “atividade-fim”, dá
amplas garantias trabalhistas aos terceirizados, e até força a contratante a
fiscalizar a empresa de terceirização.
Esse projeto, se aprovado, será um verdadeiro monstrengo
contra o trabalhador.
Em entrevista ao portal Último
Segundo – www. economia.ig.com.br,
Fabíola Marques, advogada especializada em Direito Trabalhista – membro da
Comissão de Estudos de Direito Trabalhista do IASP –, a terceirização já é
um fato consumado e não existe mais a possibilidade de descartá-la do dia a dia
das empresas com uma “canetada”. Contudo, ela aponta problemas no texto que irá
para votação na Câmara.
“O projeto, quando autoriza a terceirização para qualquer tipo
de atividade, comete um grande equívoco, porque foge do objetivo para o qual a
terceirização foi criada, qual seja permitir que empresas especializadas
realizem esta sua competência para a contratante e permitam que a esta última
‘se preocupe’ com a sua finalidade principal". Ela também vê com
preocupação a possibilidade de terceirização pelo Poder Público. "Diante
da precarização do serviço público, ausência de contratação por concurso
público e inexistência de responsabilidade do governo pelo pagamento das verbas
trabalhistas aos empregados contratados.”
Segundo a Revista carta capital - www.cartacapital.com.br - entidades
de trabalhadores, auditores fiscais, procuradores do trabalho e juízes trabalhistas
acreditam que o projeto é nocivo aos trabalhadores e à sociedade. Nesta
terça-feira sete a polícia reprimiu um protesto das centrais sindicais contra o projeto, em frente ao Congresso Nacional.
Descubra por que você deve
se preocupar com a mudança:
1- Salários e benefícios devem ser cortados
O salário de trabalhadores terceirizados é 24% menor do que o dos empregados
formais, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese).
No setor bancário, a diferença é ainda maior: eles ganham em média
um terço do salário dos contratados. Segundo o Sindicato dos Bancários de São
Paulo, eles não têm participação nos lucros, auxílio-creche e jornada de seis
horas.
2- Número de empregos pode cair
Terceirizados trabalham, em média, três horas a mais por semana do
que contratados diretamente. Com mais gente fazendo jornadas maiores,
deve cair o número de vagas em todos os setores.
Se o processo fosse inverso e os terceirizados passassem a
trabalhar o mesmo número de horas que os contratados, seriam criadas 882.959
novas vagas, segundo o Dieese.
3- Risco de acidente deve aumentar
Os terceirizados são os empregados que mais sofrem acidentes. Na
Petrobras, mais de 80% dos mortos em serviço entre 1995 e 2013 eram
subcontratados. A segurança é prejudicada porque companhias de menor porte não
têm as mesmas condições tecnológicas e econômicas. Além disso, elas recebem
menos cobrança para manter um padrão equivalente ao seu porte.
4 - O preconceito no trabalho pode crescer
A maior ocorrência de denúncias de discriminação está em setores
onde há mais terceirizados, como os de limpeza e vigilância, segundo relatório
da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com refeitórios, vestiários e
uniformes que os diferenciam, incentiva-se a percepção discriminatória de que
são trabalhadores de “segunda classe”.
5- Negociação com patrão ficará mais difícil
Terceirizados que trabalham em um mesmo local têm patrões
diferentes e são representados por sindicatos de setores distintos. Essa
divisão afeta a capacidade de eles pressionarem por benefícios. Isolados, terão
mais dificuldades de negociar de forma conjunta ou de fazer ações, como greves.
6- Casos de trabalho escravo podem se multiplicar
A mão de obra terceirizada é usada para tentar fugir das
responsabilidades trabalhistas. Entre 2010 e 2014, cerca de 90% dos
trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo
contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e
Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e
manutenção elétrica.
7- Maus empregadores sairão impunes
Com a nova lei, ficará mais difícil responsabilizar empregadores
que desrespeitam os direitos trabalhistas, porque a relação entre a empresa
principal e o funcionário terceirizado fica mais distante e difícil de ser
comprovada. Em dezembro do último ano, o Tribunal Superior do Trabalho tinha
15.082 processos sobre terceirização na fila para serem julgados, e a
perspectiva dos juízes é de que esse número aumente. Isso porque é mais difícil
provar a responsabilidade dos empregadores sobre lesões a terceirizados.
8- Haverá mais facilidades para corrupção
Casos de corrupção como o do bicheiro Carlos Cachoeira e do
ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda envolviam a terceirização
de serviços públicos. Em diversos casos menores, contratos fraudulentos de
terceirização também foram usados para desviar dinheiro do Estado. Para o
procurador do trabalho Rafael Gomes, a nova lei libera a corrupção nas
terceirizações do setor público. A saúde e a educação públicas perdem dinheiro
com isso.
9- Estado terá menos arrecadação e mais gastos
Empresas menores pagam menos impostos. Como o trabalho
terceirizado transfere funcionários para empresas menores, isso diminuiria a
arrecadação do Estado. Ao mesmo tempo, a ampliação da terceirização deve
provocar uma sobrecarga adicional ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao INSS.
Segundo juízes do TST, isso acontece porque os trabalhadores terceirizados são
vítimas de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais com mais freqüência, o
que gera gastos ao setor público.
Fontes: Relatórios
e pareceres da Procuradoria Geral da República (PGR), da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos e de juízes do Tribunal Superior do Trabalho. Entrevistas com o
auditor fiscal Renato Bignami e o procurador do trabalho Rafael Gomes.
Finalizando, embora a proposta abranja tanto o setor privado
quanto o público (estatais), a situação tende a se agravar em relação ao setor
público. No caso de servidores públicos (administração direta, autarquias e
fundações), ainda será editado um decreto com novas regras. O projeto prevê que
o setor público possa contratar terceirizados em vez de abrir concursos
públicos, além de arcar com os encargos previdenciários. Acabar com o
instituto jurídico do concurso público é incentivar a má qualidade do serviço
público e a oportunidade de escolher o melhor para a administração pública.
Simplesmente estão rasgando a Constituição de 1988.
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