Oposição
a Renan busca alternativa para disputar presidência do Senado, mas ele é o
favorito para vencer a eleição
Matéria
do jornal Valor Econômico dessa segunda-feira, 07.01.2013 e manchete e edição do
jornalista Roberto Cavalcanti
A estratégia do senador Renan
Calheiros (PMDB-AL) de adiar o lançamento da candidatura à presidência do
Senado para o fim de janeiro, alguns dias antes da eleição - marcada para 1º de
fevereiro de 2013, quando o Congresso Nacional retoma os trabalhos -, pode
reduzir o tempo do desgaste do seu nome na mídia, mas não irá livrá-lo de
constrangimentos com colegas. O grupo que reúne senadores considerados
"independentes" do PMDB e alguns de outros partidos contrários à
escolha da Renan para suceder José Sarney (PMDB-AP) no comando do Senado pelo
biênio 2013-2014 planeja retomar, nos próximos dias, as articulações para tentar
lançar um concorrente do pemedebista. Mesmo que seja apenas para forçar um
debate, já que a busca por uma alternativa politicamente viável dentro do
próprio PMDB fracassou. Essa é uma das
reportagens de destaque do jornal Valor Econômico dessa segunda-feira, dia
07.01.2013
"Seria interessante se viesse outra
candidatura, não necessariamente a minha", afirma Pedro Taques (PDT-MT),
que pretende estar em Brasília por volta do dia 20 de janeiro e propor nova
rodada de conversas entre os chamados "dissidentes". Outro senador
que colocou seu nome na roda é Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que concorreu com
Sarney em fevereiro de 2011. "Não é veto a quem quer que seja. Mas
precisamos ter debate sobre o Senado, conhecer as propostas do novo presidente,
o que ele acha de o Poder Legislativo ser pautado pelo Executivo, por exemplo.
Como eu não gosto de eleitor de cabresto, também não quero ser senador de
cabresto", diz Taques.
Segundo levantou o Valor Econômico, além da discussão de nomes, um documento está
sendo elaborado por Cristovam Buarque (PDT-DF) cobrando compromissos do próximo
presidente da Casa, seja ele quem for, por maior transparência, mais
competência na gestão e uma ação parlamentar eficiente. O documento será
discutido com os colegas e, após eventuais mudanças sugeridas, Cristovam espera
que ele seja divulgado com a assinatura de um grupo de senadores. "Abordei
Renan numa solenidade de fim de ano e perguntei quais eram as propostas dele.
Respondeu que nem sabia se seria candidato, que não havia se lançado
ainda", relata Cristovam, espantado com a demora do pemedebista em se
assumir candidato e discutir a futura gestão.
E o senador Cristovam emendou: "Quer dizer que
vamos nos reunir no dia 1º de fevereiro e eleger o presidente sem qualquer
debate. Na época em que os coronéis mandavam nas eleições no Nordeste era
assim. O eleitor recebia a cédula já com o nome do candidato. É isso que vamos
fazer." Por fim, se Renan conseguir driblar as cobranças e não tiver
concorrente no dia da eleição, a expectativa do grupo é que haja um número
significativo de abstenções ou votos nulos ou em branco. Número insuficiente
para ameaçar sua volta ao cargo - que ocupou de 2005 a 2007, quando renunciou
por causa de escândalos -, mas com potencial de enfraquecer sua liderança.
Jarbas Vasconcelos (PE), o único pemedebista que é
oposição à gestão de Dilma Rousseff, avisou que não vota em Renan. "Se ele
for o único candidato, não voto. Ou me retiro da votação ou voto nulo ou em
branco", diz. Para Jarbas, as denúncias que levaram a Renan a renunciar à
presidência do Senado há cinco anos e a enfrentar processos por suposta quebra
de decoro parlamentar (foi inocentado no Conselho de Ética e no plenário) são
muito recentes. Uma delas é supostamente ter pago despesas pessoais com recursos
de empreiteira. "Os acontecimentos são muito recentes. Por que tem que ser
Renan, que renunciou [da presidência da Casa] há pouco tempo, para não ser
punido? Numa bancada de cerca de 20 senadores não tem outro nome?",
pergunta Jarbas. O pernambucano se recusa a disputar, argumentando que não
agregaria nenhum voto da base governista, já que faz oposição a Dilma. Pelas
regras e tradição do Senado, cabe ao partido com a maior bancada indicar o
presidente, embora ele tenha que se submeter à votação secreta no plenário.
De acordo com o Valor Econômico, o PMDB tem a maior bancada. Renan é do grupo de
Sarney, Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO), presidente do partido em
exercício. Aos poucos, acomodou senadores novatos do partido em cargos
importantes, como Eunício Oliveira (CE) e Vital do Rêgo (PB). Foi ampliando a
rede de apoios. Nos quadros do PMDB, os nomes cogitados pelo grupo dissidente
para disputar com Renan foram os de Luiz Henrique (SC), Ricardo Ferraço (ES) e
Pedro Simon (RS). Nenhum, no entanto, concorda em concorrer na bancada, onde o
líder Renan é favorito. Luiz Henrique disse que aceitaria apenas se fosse
candidato "de consenso".
Segundo destaca o Valor Econômico, até opositores de Renan consideram certa sua
eleição, pela habilidade com que derrubou, um a um, a maioria dos obstáculos à
sua candidatura. Antes visto com desconfiança pelo Palácio do Planalto, hoje o
pemedebista é considerado pelos colegas como o candidato apoiado pela
presidente Dilma Rousseff. O sinal mais claro foi a viagem que o senador Luiz
Henrique fez à Rússia, na comitiva da presidente, como seu convidado. Ele
deixou o Brasil demonstrando ao grupo dissidente algum entusiasmo com uma
possível candidatura a presidente do Senado. Chegaram a comentar que Dilma
poderia manifestar apoio ao seu nome. Ao retornar, o desânimo mostrado pelo
catarinense com o projeto deixou a impressão de que Dilma teria deixado claro
seu apoio a Renan. Ou, então, que o assunto não fez parte das conversas, versão
dada por Luiz Henrique a pessoas próximas. Na prática, a leitura é que Dilma
não alimentou qualquer expectativa de aval do Palácio do Planalto a uma
eventual candidatura contra Renan.
O favoritismo do líder do PMDB, que integra o grupo
que comanda o partido, ao lado do vice-presidente da República, Michel Temer, e
de Sarney, tem outros sinais. Um deles é a posição do PT, que tem o segundo
maior número de senadores. "O nome que a bancada majoritária [no caso, o
PMDB] indicar é responsabilidade dela. Ao PT é dado o direito de opinar sobre a
ocupação dos cargos que lhe cabe na Mesa e nas comissões", explica o atual
líder do PT, Walter Pinheiro (BA) ao Valor
Econômico.
Entre os senadores, a sensação de fortalecimento de
Renan também é alimentada pelos rumores de que o PSDB fez um acordo com o PMDB,
na Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPI) do caso Cachoeira. O PMDB
apoiaria a exclusão do nome do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), dos
supostos envolvidos no relatório final, em troca do apoio dos tucanos à eleição
de Renan. Nem todos os senadores do PSDB, no entanto, apoiam essa estratégica.
Aloysio Nunes Ferreira (SP) e o líder, Álvaro Dias (PR), já participaram das
reuniões do grupo que discute alternativas a Renan.
Na quinta-feira, dia 3, Cristovam estava escrevendo
o documento que submeteria aos colegas. Nele, o senador do PDT listava
problemas recentes da gestão de Sarney. Um deles, a descoberta de que a Casa
não desconta Imposto de Renda de parte dos rendimentos dos parlamentares, por
não considerá-la salário - coisa que a Câmara dos Deputados já fazia. "Prova
de gestão errada", diz Cristovam. Apontado o erro, o Senado pagou o que
era cobrado pela Receita. Segundo erro, segundo o senador. Outro
"absurdo" citado por ele é o fato de o Congresso não ter votado mais
de 3 mil vetos presidenciais e não dar importância a isso.
Quando o Supremo Tribunal Federal (STF) mandou que
fossem votados em ordem cronológica, impedindo que o veto de Dilma à mudança na
regra de distribuição dos royalties do petróleo passasse à frente dos demais, o
comando do Congresso faz uma "presepada" - chegou a imprimir cédulas
com os mais de 3 mil vetos para serem votados individualmente pelos
parlamentares. Nada foi votado. Cristovam citou, ainda, a "vergonha"
que foi o desfecho da CPI do Cachoeira e a não votação do Orçamento Geral da
União para 2013. Há, ainda, a denúncia da utilização de "atos
secretos", que marcou a gestão Sarney. Afirmou ele ao Valor Econômico: "Tudo isso é resultado de uma maneira como
nós nos comportamos. Nós todos, eu inclusive. Estamos apenas discursando.
Ficamos sentados nas comissões, votando projetos sem discussão. E no plenário
também não há debate. Essa eleição devia ser um momento de marcar uma mudança
de posição. O próximo presidente deveria vir com proposta de aumentar a
transparência, dar mais competência gerencial e trazer a ação parlamentar para
dentro do Senado", define Cristovam.
Segundo revela o Valor Econômico, Renan prepara uma plataforma de gestão para
apresentar ao plenário, com promessa de transparência, enxugamento do Senado e
medidas consideradas "ousadas" por pessoas que o auxiliam. Mas foi
sua habilidade política na liderança, para acomodar os insatisfeitos nos
espaços do partido no Senado, que o fortaleceu na bancada. Com o Planalto,
aproveitou a relatoria da medida provisória que tratou da renovação das
concessões do setor elétrico para garantir a aprovação do texto como queria a
presidente.
Renan no comando do Senado e Henrique Eduardo Alves
(RN), líder do PMDB na Câmara dos Deputados, na presidência da outra Casa
Legislativa dará ao PMDB o controle da pauta congressual nos dois últimos anos
do mandato de Dilma. E fortalecerá o papel do vice-presidente Michel Temer,
presidente nacional do partido licenciado, como parceiro de chapa de Dilma na
disputa pela reeleição em 2014.
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