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quinta-feira, 16 de agosto de 2012



Sem interferência do Palácio do Planalto, candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado ganha força 

Reportagem do jornal Valor Econômico e manchete e edição do jornalista Roberto Ramalho, em 16.08.2012

Embora as articulações para a sucessão do senador José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado ainda estejam nos bastidores - diferentemente da Câmara dos Deputados, onde o processo de eleição da nova Mesa Diretora está a todo vapor -, há sinais de fortalecimento da candidatura do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). As eleições para o comando das duas Casas para novo biênio será em fevereiro de 2013.

Segundo informa o jornal Valor Econômico, os pemedebistas citam especialmente dois fatos recentes, favoráveis ao líder. Primeiro, a desarticulação do grupo de senadores do PMDB que se opunham ao comando de Renan, chamado de "G-8". A união desses parlamentares chegou a ameaçar a maioria do alagoano na bancada, mas hoje eles, que não se reúnem mais, admitem não haver articulação contra seu nome. É um dos chamados independentes que afirma: "Nas condições atuais, Renan não é pule de dez. É pule de onze". O segundo fato que beneficiou Renan foi, ironicamente, a movimentação da presidente Dilma Rousseff favorável à volta do ministro Edison Lobão (Minas e Energia) ao Senado, para que a bancada pudesse indicá-lo para a presidência. Dilma teria estimulado o líder a desistir da presidência do Senado e prometido apoio ao projeto de disputar o governo de Alagoas.

De acordo ainda com o Valor Econômico, a iniciativa da presidente deu a Renan uma imagem de independência em relação ao governo, o que agrada os senadores. Há, entre eles, rejeição a qualquer tentativa de intervenção do Planalto em questão interna da Casa, especialmente por ser grande a insatisfação com a forma como Dilma trata os parlamentares. Ou melhor, com a total falta de relacionamento. Além disso, a bancada avalia que a ideia de trazer um nome de fora da Casa para suceder Sarney é o mesmo que considerar que os quase 20 senadores da bancada do PMDB não estão à altura do cargo. Uma ofensa, portanto.

A reportagem do Valor Econômico diz, ainda, que formado no início da legislatura, em 2011, o "G-8" reunia senadores que contestavam o controle do partido pelo grupo de Renan e Sarney. Eles criticavam a centralização das decisões e cobravam a realização de reuniões da bancada e a discussão de propostas legislativas em tramitação e de assuntos de interesse do partido. Aos poucos, o "G-8" foi se dissolvendo, em parte porque os senadores foram sendo acomodados nos espaços do partido. Luiz Henrique (SC) ganhou a relatoria do projeto de atualização do Código Florestal. Waldemir Moka (MT) foi eleito segundo vice-presidente do Senado. Eduardo Braga (AM), que já presidia uma comissão (Ciência e Tecnologia), foi nomeado pela presidente líder do governo. Roberto Requião (PR) preside a Comissão de Educação e a Comissão Conjunta do Mercosul. Jarbas Vasconcelos (PE) - o único do "G-8" que se colocava como oposição ao governo - teve problemas de saúde e, depois, voltou-se para questões políticas locais de Pernambuco, que o aproximaram do governador Eduardo Campos (PSB), da base de Dilma. Ainda integravam o grupo Casildo Maldaner (SC), Pedro Simon (RS) e Ricardo Ferraço (ES), um dos mais insatisfeitos. Designado para relatar a reforma administrativa da Casa, não teve apoio do partido na missão.

Segundo afirma o Valor Econômico Eunício Oliveira (CE) e Vital do Rêgo (PB), que se diziam independentes das duas alas do PMDB, receberam tarefas importantes. Vital foi relator do projeto dos royalties do petróleo, presidiu a comissão mista de orçamento e, atualmente, comanda a Comissão Parlamentar de Inquérito mista que apura o esquema do empresário de jogos Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar esquema de corrupção. Eunício preside a poderosa Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e comanda a comissão especial encarregada de examinar a modernização do Código Penal. Por tradição, cabe ao partido com maior número de parlamentares a indicação do presidente do Senado, mesmo sendo preciso haver eleição formal pelo plenário. O PMDB tem 19 senadores no exercício do mandato (o PT vem em segundo, com 13), podendo haver variação, de acordo com eventuais substituições de titulares por suplentes.

Atualmente, além de Lobão - cujo substituto é o filho, Lobão Filho (PMDB) -, há dois titulares do partido fora dos mandatos: Garibaldi Alves Filho (RN), ministro da Previdência, cujo suplente é do PV (Paulo Davim), e João Alberto Souza (MA), que ocupa uma secretaria de Estado do Maranhão, cujo suplente é do DEM (Clóvis Fecury). Garibaldi e João Alberto podem reassumir a qualquer momento, dando ao PMDB mais dois votos na Casa. João Alberto é aliado de Sarney e Renan. Garibaldi, cujo nome já foi lembrado para presidir a Casa, cargo que já ocupou, tem atuação independente, mas não bate de frente com o grupo que comanda o partido.

Por outro lado, a bancada conta com Sérgio Souza (PR), suplente de Gleisi Hoffmann (PT), atual chefe da Casa Civil da Presidência da República. Se Gleisi reassumir o Senado, o PMDB perde Souza. No momento, também está licenciado o presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), mas seu substituto é do PMDB (Tomás Correia), o que não afeta a conta.

Segundo avalia o Valor Econômico, o clima político melhorou para Renan, mas há incerteza quanto aos efeitos da oficialização de sua candidatura. A preocupação é trazer à tona as denúncias sofridas por ele quando presidiu a Casa. Acusado de pagar despesas pessoais com dinheiro de lobista de uma construtora, sofreu processos por quebra de decoro. Foi absolvido no plenário, mas renunciou ao cargo na Mesa. Inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF), a seu pedido, aguarda julgamento. Nesse aspecto, há receio de influência do governo. A avaliação é que, se o Planalto quiser desgastá-lo, pode estimular nova onde de ataques e denúncias contra Renan. Essa é uma das razões pelas quais as lideranças pemedebistas evitam antecipar as conversas sobre a sucessão.

De acordo ainda com o jornal, outra razão é a disputa que será deflagrada pela vaga de líder. Os nomes mais lembrados são os de Romero Jucá (RR), ex-líder do governo, Eunício, Vital, Moka e Luiz Henrique. Aliados de Renan querem, primeiro, consolidar a candidatura dele a presidente. A liderança seria discutida depois. O mais experiente, Jucá tem a desvantagem de ser do mesmo grupo de Renan e Sarney. Ou seja, ele sendo líder, não haveria equilíbrio entre as alas do partido. Por outro lado, nenhum outro nome tem maioria na bancada.

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