NORDESTE
LIDERA RANKING DA INADIMPLÊNCIA NO PAÍS
Manchete
e Edição do jornalista Roberto Ramalho. Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”
Norte e Nordeste lideram
a lista de regiões com maior nível de calote. Desde 2008, o total de dívidas
cresceu 153% entre nordestinos e 131% entre nortistas. Segundo o Banco Central,
a inadimplência média chegou a 6,1% no Nordeste e 5,9% no Norte. O Estado com o maior nível de
inadimplência no País é o Amapá, onde 8% dos consumidores não pagam dívidas há
mais de três meses. Rosana Silva Pires tem uma pequena loja no bairro do Muca,
em Macapá. Ao lado do caixa da Auderi Móveis, uma placa avisa que a loja não aceita
cheques. A decisão foi tomada pela comerciante de 49 anos no fim do ano
passado, depois do prejuízo de quase R$ 8 mil com vários deles que não tinham
fundo. Rosana é vítima de uma triste realidade: o Amapá tem a maior
inadimplência do Brasil. Lá, 8% dos consumidores não pagam dívidas há mais de
três meses. Essa é uma das
principais manchetes de capa do jornal O
Estado de S. Paulo dessa segunda-feira, 09.07.2012
Segundo a reportagem de O Estado de S. Paulo, beneficiado pela inclusão bancária e ascensão
social nos últimos anos, o mercado de crédito no Norte e Nordeste cresceu a
passos largos nos últimos anos. Desde agosto de 2008, antes da primeira onda da
crise financeira internacional - quando o governo passou a incentivar o crédito
para consumo - o total de dívidas saltou 153% entre os nordestinos e 131% entre
os nortistas. Enquanto isso, o crescimento no restante do Brasil ficou em torno
de 108%, segundo o Banco Central, que acompanha a regularidade de pagamentos
nas 27 unidades da Federação desde 2004. Nos últimos seis meses, o Amapá figura
como o maior calote do Brasil.
Em 12 anos do levantamento, consumidores do
Nordeste e Norte apresentam, sistematicamente, atrasos maiores que o restante
do País. Mas nos últimos 12 meses, os nordestinos estão liderando esse ranking.
Em abril, a região tinha inadimplência média de 6,1% nos empréstimos e
financiamentos e era seguida de perto do Norte, com 5,9%. A lista continua com
o Sudeste, onde o calote está em 5,1%, e com o Centro-oeste, com 4,6%. Na
lanterna, os sulistas têm a menor taxa do País: 4,1%. Ou seja, levam o título
de melhores pagadores do Brasil.
Só no cartão.
Em Macapá, em entrevista ao O Estado de S. Paulo, Rosana reclama que a inadimplência começou a
subir com força na metade do ano passado. "Foram vários meses que, a cada
dez cheques que depositava, voltavam dois ou três", lamenta. Na época, a
Auderi Móveis parcelava as compras em até quatro vezes no cheque pré-datado. O
problema, diz Rosana, é que muitos não tinham fundos e o cliente sumia. Com
prejuízos crescentes, Rosana aboliu a opção. Agora, só financia no cartão de
crédito - operação garantida pela operadora do dinheiro de plástico.
Uma série de fatores explica o fenômeno, mas a renda
e a pouca familiaridade com serviços financeiros são apontados por
especialistas em finanças como causas da inadimplência mais elevada nas duas
regiões. "A renda influencia diretamente porque consumidores têm salários
menores e, por isso, menos ativos financeiros para usar em momentos de
turbulência como o atual", diz o economista Luiz Rabi, da empresa de
análises e informações para decisões de crédito e apoio a negócios Serasa
Experian ao tradicional jornal paulista. O argumento de Rabi é que consumidores
com renda maior podem ter ativos - como uma poupança - para usar em situações
de necessidade, o que evitaria a inadimplência. Na Serasa, outro indicador
mostra o mesmo fenômeno: as duas regiões têm elevados índices de devolução de
cheques. A explicação de Rabi leva em conta dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE): a renda mensal no Nordeste é de R$ 945,61 por
pessoa, a mais baixa do País. O Norte tem a segunda menor: R$ 1.128,24. As duas
regiões são as únicas com valor inferior à média nacional, de R$ 1.344,70.
Despreparo.
Também entrevistado pelo O Estado de S. Paulo, Felipe Leroy, professor de economia do Ibmec
Minas, também chama atenção para a pouca familiaridade dos clientes com
serviços financeiros, como o financiamento para compra de automóveis.
"Sobretudo em regiões menos desenvolvidas, o nível de educação financeira
dos clientes é baixo. Consumidores não estão preparados para organizar o
orçamento e usar instrumentos como um cartão ou o limite do cheque
especial", afirma Leroy.
Afirmou ele: "Ver que o governo continua
incentivando o crédito para consumo é preocupante, especialmente agora que a economia
está mais devagar". Ainda segundo Leroy, é preciso esclarecer os
consumidores sobre o custo de um empréstimo e incentivar fortemente a troca de
operações caras, como o cheque e o cartão, por opções mais competitivas - como
o crédito pessoal ou consignado.
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