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segunda-feira, 9 de julho de 2012


NORDESTE LIDERA RANKING DA INADIMPLÊNCIA NO PAÍS

Manchete e Edição do jornalista Roberto Ramalho. Reportagem do jornal “O Estado de S. Paulo”  

Norte e Nordeste lideram a lista de regiões com maior nível de calote. Desde 2008, o total de dívidas cresceu 153% entre nordestinos e 131% entre nortistas. Segundo o Banco Central, a inadimplência média chegou a 6,1% no Nordeste e 5,9% no Norte. O Estado com o maior nível de inadimplência no País é o Amapá, onde 8% dos consumidores não pagam dívidas há mais de três meses. Rosana Silva Pires tem uma pequena loja no bairro do Muca, em Macapá. Ao lado do caixa da Auderi Móveis, uma placa avisa que a loja não aceita cheques. A decisão foi tomada pela comerciante de 49 anos no fim do ano passado, depois do prejuízo de quase R$ 8 mil com vários deles que não tinham fundo. Rosana é vítima de uma triste realidade: o Amapá tem a maior inadimplência do Brasil. Lá, 8% dos consumidores não pagam dívidas há mais de três meses. Essa é uma das principais manchetes de capa do jornal O Estado de S. Paulo dessa segunda-feira, 09.07.2012

Segundo a reportagem de O Estado de S. Paulo, beneficiado pela inclusão bancária e ascensão social nos últimos anos, o mercado de crédito no Norte e Nordeste cresceu a passos largos nos últimos anos. Desde agosto de 2008, antes da primeira onda da crise financeira internacional - quando o governo passou a incentivar o crédito para consumo - o total de dívidas saltou 153% entre os nordestinos e 131% entre os nortistas. Enquanto isso, o crescimento no restante do Brasil ficou em torno de 108%, segundo o Banco Central, que acompanha a regularidade de pagamentos nas 27 unidades da Federação desde 2004. Nos últimos seis meses, o Amapá figura como o maior calote do Brasil.

Em 12 anos do levantamento, consumidores do Nordeste e Norte apresentam, sistematicamente, atrasos maiores que o restante do País. Mas nos últimos 12 meses, os nordestinos estão liderando esse ranking. Em abril, a região tinha inadimplência média de 6,1% nos empréstimos e financiamentos e era seguida de perto do Norte, com 5,9%. A lista continua com o Sudeste, onde o calote está em 5,1%, e com o Centro-oeste, com 4,6%. Na lanterna, os sulistas têm a menor taxa do País: 4,1%. Ou seja, levam o título de melhores pagadores do Brasil.

Só no cartão. 

Em Macapá, em entrevista ao O Estado de S. Paulo, Rosana reclama que a inadimplência começou a subir com força na metade do ano passado. "Foram vários meses que, a cada dez cheques que depositava, voltavam dois ou três", lamenta. Na época, a Auderi Móveis parcelava as compras em até quatro vezes no cheque pré-datado. O problema, diz Rosana, é que muitos não tinham fundos e o cliente sumia. Com prejuízos crescentes, Rosana aboliu a opção. Agora, só financia no cartão de crédito - operação garantida pela operadora do dinheiro de plástico.

Uma série de fatores explica o fenômeno, mas a renda e a pouca familiaridade com serviços financeiros são apontados por especialistas em finanças como causas da inadimplência mais elevada nas duas regiões. "A renda influencia diretamente porque consumidores têm salários menores e, por isso, menos ativos financeiros para usar em momentos de turbulência como o atual", diz o economista Luiz Rabi, da empresa de análises e informações para decisões de crédito e apoio a negócios Serasa Experian ao tradicional jornal paulista. O argumento de Rabi é que consumidores com renda maior podem ter ativos - como uma poupança - para usar em situações de necessidade, o que evitaria a inadimplência. Na Serasa, outro indicador mostra o mesmo fenômeno: as duas regiões têm elevados índices de devolução de cheques. A explicação de Rabi leva em conta dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): a renda mensal no Nordeste é de R$ 945,61 por pessoa, a mais baixa do País. O Norte tem a segunda menor: R$ 1.128,24. As duas regiões são as únicas com valor inferior à média nacional, de R$ 1.344,70.

Despreparo. 

Também entrevistado pelo O Estado de S. Paulo, Felipe Leroy, professor de economia do Ibmec Minas, também chama atenção para a pouca familiaridade dos clientes com serviços financeiros, como o financiamento para compra de automóveis. "Sobretudo em regiões menos desenvolvidas, o nível de educação financeira dos clientes é baixo. Consumidores não estão preparados para organizar o orçamento e usar instrumentos como um cartão ou o limite do cheque especial", afirma Leroy.

Afirmou ele: "Ver que o governo continua incentivando o crédito para consumo é preocupante, especialmente agora que a economia está mais devagar". Ainda segundo Leroy, é preciso esclarecer os consumidores sobre o custo de um empréstimo e incentivar fortemente a troca de operações caras, como o cheque e o cartão, por opções mais competitivas - como o crédito pessoal ou consignado.

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