DILMA E A
BOA RELAÇÃO COM MILITARES
Reportagem
do jornal Correio Braziliense. Manchete e edição do jornalista Roberto Ramalho
O
reajuste salarial de 30% à categoria — que não aderiu ao movimento grevista —é
a mais recente de um conjunto de medidas para valorizar a caserna. O reajuste de 30% anunciado
para as Forças Armadas integra um conjunto de medidas do Planalto para melhorar
a relação com os militares. A construção de satélite e a convocação para atuar
na Copa de 2014 estão incluídas. Reportagem principal de capa do jornal Correio Braziliense, edição dessa
segunda-feira (03.09.2012).
Segundo o Correio Braziliense a Semana da Pátria começa com uma relação cada
vez mais amistosa entre os militares e o Palácio do Planalto. Se ano passado a
presidente Dilma Rousseff havia trocado o comando do Ministério da Defesa um
mês antes das celebrações da Independência — Nelson Jobim foi substituído por
Celso Amorim, agora tudo caminha para um "céu de brigadeiro". Apesar
dos atritos recentes com integrantes da caserna, como a instalação da Comissão
da Verdade (leia memória abaixo), Dilma projeta um aumento salarial de 30% para
os militares e tem cobrado empenho dos subordinados em fazer andar projetos
importantes para a Defesa, como a compra do satélite que vai monitorar as
fronteiras e a construção de submarinos.
Interlocutores da presidente afirmam que as benesses concedidas aos
militares são, na verdade, uma preocupação de Dilma com a defesa do país, mas
que é difícil não reconhecer que a relação entre a presidente e a pasta começou
a melhorar com a saída do ministro Nelson Jobim. No cargo entre 2007 e 2011,
Jobim não fazia questão de esconder o descontentamento com Dilma, e acabou
caindo por suas declarações polêmicas. A mudança não agradou os militares, que
gostavam do antigo ministro, mas facilitou a interlocução da pasta com a chefe
do Executivo.
De acordo com o Correio Braziliense a sinalização mais recente da importância que o
Planalto concede à pasta foi o tratamento dispensado pelo governo ao orçamento
da Defesa. Os servidores militares, que não participaram do movimento grevista
que envolveu diversos setores da Esplanada, tiveram reajuste de 30%, o dobro do
oferecido a todas as outras categorias. O projeto de lei orçamentária enviado
pelo Executivo ao Congresso prevê um aumento de 4% para a pasta em relação ao
ano passado. Também agradou à categoria a transferência de parte das atividades
relativas à segurança dos grandes eventos para a Defesa, concentradas
anteriormente no Ministério da Justiça e, portanto, na Polícia Federal. Uma
portaria publicada no Diário Oficial da União em 22 de agosto autoriza os militares
a se planejarem para participar da vigilância da Copa do Mundo e dos Jogos
Olímpicos de 2016. O objetivo de Dilma é deixar as duas competições esportivas
menos suscetíveis às greves, já que os militares são proibidos de interromper
suas atividades.
Submarinos
Segundo informa o Correio Braziliense, Dilma tem se empenhado em fazer andar projetos
considerados importantes para as Forças Armadas. Exemplo disso é a criação de
uma empresa, a Itaguaí Construções Navais, fruto de parceria entre a Marinha e
duas companhias privadas para a construção de submarinos. Na avaliação da
presidente, é estratégico que o país possa defender as jazidas do pré-sal, mas
independentemente disso, a medida agradou os militares. Outro exemplo é o
desenvolvimento de um satélite para vigilância das fronteiras. O equipamento
auxiliará as atividades do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras
(Sisfron). No último dia 24, foi escolhido o consórcio formado por subsidiárias
controladas pela Embraer para a segunda etapa do processo que definirá a
empresa responsável pela tecnologia.
Falta somente à decisão relativa aos caças, para
contemplar a Aeronáutica. Para fazer a escolha de qual modelo irá comprar — se
o sueco, o francês ou o americano —, Dilma aguardará o resultado das eleições
nos Estados Unidos em novembro, o que poderia mudar o cenário diplomático.
Conforme apurou a reportagem do Correio Braziliense, um dos pontos que
Dilma não vai negociar, independentemente da insatisfação de integrantes da
Defesa, são os assuntos relativos à Comissão da Verdade. Na constituição do
grupo, que iniciou os trabalhos em maio passado, a presidente sequer ouviu os
militares sobre como seriam os trabalhos ou seus componentes. No dia da
cerimônia de instalação, eles compareceram, mas o mal-estar era visível.
Sentados nas primeiras fileiras, muitos nem sequer aplaudiram os discursos,
como os demais presentes.
Ainda assim, entidades que falam pela categoria —
já que os militares da ativa não podem se manifestar de forma contrária porque
seria insubordinação — acreditam que a presidente percebeu que era hora de
atender a demandas antigas s para evitar problemas. Em entrevista ao Correio Braziliense a presidente da
União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas Brasileiras
(Unemfa), Ivone Luzardo, disse que esse movimento de aproximação do governo
Dilma é fruto de uma cobrança cada vez maior, consequência de uma insatisfação
acumulada há muitos anos. Afirmou ela: "A situação é extremamente
complicada e delicada porque aumento mesmo aumento de salários, a gente não tem
há 20 anos" justifica. Mesmo sendo o dobro dos demais servidores, Ivone
afirma que o reajuste oferecido ainda é tímido perto da perda salarial dos
últimos anos. "Se houvesse tentativa de aproximação de fato, ela teria
dado o reajuste integral, e não parcelado em três anos", argumenta.
Memória. Tensão em maio
Segundo o Correio
Braziliense a tensão entre os militares e Dilma marcou o período imediatamente
anterior à instalação da Comissão da Verdade. Em maio deste ano, um grupo de
100 oficiais da reserva elaborou o documento Alerta à Nação, criticando a
presidente e as ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora
Menicucci (Secretaria das Mulheres) pelo que consideravam ser uma mudança de
postura do governo em relação ao período da ditadura militar. Em um dos
episódios que irritaram os militares, a ministra Maria do Rosário afirmara que
a Comissão da Verdade poderia criar condições para que algumas pessoas fossem
processadas criminalmente por atos praticados durante a ditadura. O manifesto
gerou uma crise entre o governo e integrantes das Forças Armadas, que aumentou
de temperatura quando Dilma decidiu punir os signatários do documento. O ministro
da Defesa, Celso Amorim, determinou a retirada do texto do site do Clube
Militar e teve sua autoridade contestada pelos militares. Ato contínuo, o
número de assinaturas endossando o manifesto cresceu, com quase 400 adesões,
incluindo dois ex-ministros do Superior Tribunal Militar.
Benesses
O Planalto vive uma relação boa com os militares ao
conceder benefícios à categoria, mesmo que tenha sido por acreditar na
importância estratégica da área para o país. Veja quais foram:
» Mesmo não tendo aderido às greves que paralisaram
o serviço público porque são proibidos, militares receberam reajuste de 30%, o
dobro das outras categorias.
» Para evitar que uma greve na Polícia Federal
atrapalhe os grandes eventos, o governo publicou uma portaria no mês passado
autorizando a Defesa a começar a se planejar para também participar da
segurança da Copa e das Olimpíadas
de 2016.
de 2016.
» Na semana passada, foi cumprida mais uma etapa do
processo de construção de um satélite que permitirá monitorar as fronteiras do
país. Empresas controladas pela Embraer ficarão responsáveis pela tecnologia do
projeto.
» Importante para a defesa das jazidas de petróleo
do pré-sal, uma empresa foi criada para a construção de submarinos. Já existem
cascos construídos.
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