A cada duas horas, uma mulher é
assassinada no Brasil. Governos nada fazem para reverter esse quadro
Jornalista Roberto Ramalho com “O
Estado de São Paulo” - Edição de Roberto Ramalho
O Mapa da Violência de 2012 mostra que, em uma
lista de 87 países, o Brasil é o sétimo que mais mata. A cada duas horas, uma
mulher é morta no Brasil. Na maioria dos casos, o assassino é o namorado,
marido ou ex-companheiro, que mata dentro de casa, após já ter cometido pelo
menos um ato de agressão.
Os dados constam do Mapa da Violência de 2012 – do
Ministério da Justiça - Homicídio de Mulheres e mostram que, em uma lista de 87
países, o Brasil é o sétimo que mais mata. Em 2010, foram 4.297 casos ou 4,4
assassinatos por 100 mil habitantes.
Na comparação por faixa populacional, o Espírito
Santo é o primeiro do ranking. Com taxa de 9,4 mortes, representando o dobro da
média brasileira e o triplo do índice de São Paulo, o penúltimo da lista.
O Estado do Piauí é o menos violento, de acordo com
o estudo elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo, com base nos dados do Sistema
de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde.
No mapa das capitais, as Regiões Norte e Nordeste
são as mais problemáticas. Porto Velho, Rio Branco, Manaus e Boa Vista, por
exemplo, têm mais de dez mortes por grupo de 100 mil habitantes. Na contramão,
Brasília registra 1,7. Mas, seja qual for à região, as principais vítimas são,
normalmente, mulheres de 20 a 29 anos.
A pesquisa é a primeira a registrar estatísticas
regionais e, por isso, pode representar um marco na definição de políticas
públicas. De acordo como sociólogo Júlio Jacobo "Quando o assunto é
violência contra a mulher, não existe uma fórmula pronta. Por isso, é
importante conhecer as realidades locais, para trabalhar cada particularidade,
especialmente as culturais. Muitas toleram uma agressão em "nome da
honra", por exemplo. De toda forma, qualquer que seja o trabalho, ele deve
contar com a força policial. Foi assim que o Piauí se destacou", destaca.
Diferentemente do cenário de violência masculina, a
agressão contra a mulher dificilmente acontece no bar ou no local de trabalho,
mas na residência, nas ruas ou mesmo na escola. Ainda segundo o estudo, o
agressor usa, em 53,9% dos casos, armas de fogo.
Lei Maria da Penha.
Nos últimos 14 anos, o índice nacional de homicídios
de mulheres se manteve estável. A menor taxa registrada no período é de 2007,
ano em que entrou em vigor a Lei Maria da Penha, que pune o agressor com mais
rigor e assegura à mulher proteção policial e da Justiça em caso de denúncia.
Foram 3.772 casos - taxa de 3,9. No ano seguinte, porém, a curva voltou a
crescer, atingindo 4,2.
Nas últimas três décadas, de acordo com o histórico
do mapa, 91.932 mulheres foram mortas no Brasil. Com dados de 1980 para cá, a
pesquisa mostra que o crescimento efetivo ocorreu até 1996, quando a taxa
nacional atingiu o pico de 4,6. "Depois disso, temos redução dos índices,
mas eles ainda estão longe do ideal. No ranking internacional, o Brasil só fica
atrás de El Salvador, Trinidad e Tobago, Guatemala, Rússia, Colômbia e Belize."
Na lista, 44 países têm taxas iguais ou inferiores a 1.
A redução dos conflitos domésticos está, segundo o
Instituto Patrícia Galvão - especializado em violência contra a mulher -, na
construção de uma rede protetora que dê suporte psicológico à vítima.
"Não basta abrir mais delegacias
especializadas pelo País. A mulher dificilmente faz a denúncia imediatamente.
Muitas vezes, ela até se sente culpada ou na obrigação da salvar o casamento. É
nessa hora que precisa encontrar uma rede de acolhida para desabafar e receber
orientação, antes de procurar a polícia", diz Jacira Melo, diretora
executiva da entidade.
Fases da
violência.
Entre os fatores que dificultam o
relato está a proximidade com o agressor. As estatísticas mostram que, seja
qual for à idade da mulher, quem a agride mora em sua casa ou faz parte de sua
família. "Até os nove anos, ela é vítima dos pais de sangue ou criação.
Quando se torna adulta, corre o risco de ser espancada pelo marido ou ex. E, já
idosa, acaba maltratada pelos próprios filhos", relata o sociólogo Júlio Jacobo.
COMENTÁRIO
DE ROBERTO RAMALHO
Isso, também, justifica e mostra
que a violência contra a mulher ainda vem acompanhada de atitudes machistas,
onde o “homem” acha que sua companheira, mulher ou namorada, é sua propriedade.
Se está existindo um conflito de
valores dentro da família, sejam eles por razões educacionais ou amorosas, e
deixou de existir aquele companheirismo, amor, cumplicidade e amizade entre o
casal, está na hora de cada um buscar o seu lugar e pegar o beco.
Se por acaso houve traição, e
partiu da mulher, não existe razão de o homem bater na sua mulher ou mesmo
matá-la. Basta que ele a deixe, e procure outra que possa lhe dar amor,
carinho, compreensão etc.
Violência contra a mulher é
abominável e inaceitável. Eu sempre digo que não se bate numa mulher nem com
uma flor, quanto mais usando de outros meios e instrumentos perversos.
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