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Jornalista envolvido e preocupado com questões sociais e políticas que afligem nossa sociedade, além de publicar matérias denunciando pessoas ou entidades que praticam atos contra o interesse público e agindo, sempre, em defesa da sociedade.

terça-feira, 28 de março de 2023

Artigo – Brasil ainda lidera ranking de violência contra professores. Roberto Cavalcanti é advogado, foi procurador do município de Maceió e é jornalista. www.ditoconceito.blogspot.com.br
 

1. Considerações sobre o fato criminoso praticado por um menor

De acordo com reportagem do Portal G1 – g1.globo.com - quatro professoras e um aluno foram esfaqueados manhã desta segunda-feira (27) dentro da Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, em São Paulo, segundo o governo de São Paulo. Uma das professoras, Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário da USP. O agressor, um aluno de 13 anos do oitavo ano na escola, foi desarmado por professoras, apreendido por policiais e levado para o 34° DP, onde o caso foi registrado. Um vídeo acima mostra o momento em que ele foi desarmado por duas professoras.

Testemunhas já haviam relatado atos de racismo e brigas no local antes da tragédia e foi justamente a vítima dessa segunda-feira, 27 de março, que havia apartado a confusão entre os alunos.

O agressor, um garoto de 13 anos, já fazia publicações desde domingo e era encorajado por outros usuários, com perfis semelhantes. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse que qualquer um que tenha curtido, comentado ou sequer clicado nessas publicações, será investigado e intimado a depor.

Na porta da escola, pais relataram à reportagem da TV Globo que agressões físicas entre os alunos são constantes na escola.

Governo de São Paulo é representado pelo secretário estadual da Educação, Renato Feder, que disse que o agressor tinha pedido transferência e estudava na unidade desde o começo deste ano.

2. O que disseram o governador do estado de São Paulo e o vice-presidente da República sobre o episódio

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lamentou por meio das redes sociais, declarando o seguinte:Não tenho palavras para expressar a minha tristeza”, escreveu.

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSD), em mensagem nas redes sociais sobre o ataque, afirmou: "Transmito meus sentimentos e orações à família da professora Elisabete Tenreiro, aos feridos e a toda a comunidade da Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, atingida por uma lamentável ocorrência".

3. A violência praticada contra professores ao longo do tempo

Já existe um estudo para contratação de psicólogos e psicopedagogos para trabalharem nas Escolas de São Paulo. Porém, isso ainda não foi colocado em prática.

Segundo dados de uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre violência em escolas com mais de 100 mil professores, o Brasil continua liderando o ranking de agressões contra docentes. Entre os professores ouvidos, 12,5% afirmaram ser vítimas de agressões verbais ou intimidações de alunos.

De acordo com um novo levantamento feito pela GloboNews em São Paulo, o número de agressões a professores cresceu 73% em 2018 em relação ao ano anterior. Já dados divulgados sobre uma pesquisa realizada pelo Sindicato dos Professores de São Paulo apontam que mais da metade dos docentes da rede estadual de ensino afirmam já ter sofrido algum tipo de agressão, sendo a mais comum a agressão verbal (44%), seguida por discriminação (9%), bullying (8%), furto/roubo (6%), e agressão física (5%).

Pesquisas mais recentes mostram estatisticamente que a violência escolar, em especial contra professores, continua sendo motivo de preocupação. Um levantamento realizado em julho de 2022 pela associação Nova Escola ouviu mais de 5 mil professores e 51,23% deles relataram terem sido agredidos verbalmente nas escolas em que trabalhavam. Outros 7,53% relataram violência física. Na maioria das vezes (50,5%), os agressores eram os alunos

4. O que afirmam os especialistas

Em entrevista à Nova Escola, a professora Telma Vinha, da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública, destaca o aumento dos discursos de ódio e a influência deles sobre os alunos. Muitos jovens participam de fóruns e grupos nas redes sociais associados à xenofobia, racismo e até neonazismo, e levam esses discursos para a prática dentro do ambiente escolar.

A motivação do ataque na escola paulistana é prova disso: o agressor, um aluno de 13 anos, havia discutido com outro colega na semana anterior e proferido ofensas racistas. A professora que interviu na briga e o repreendeu foi a vítima fatal do ataque.

É preciso pontuar, no entanto, que o aumento da violência escolar é um fenômeno complexo e de múltiplas raízes. Uma delas foi a pandemia. Dados preliminares de uma pesquisa que está sendo desenvolvida por Telma Vinha e seus colegas na Unicamp já indica os impactos do isolamento social sobre este tipo de violência: dos 22 ataques cometidos em escolas brasileiras ao longo dos últimos 21 anos, nove ocorreram no segundo semestre de 2022 para cá.

Em entrevista concedida ao programa ‘Estúdio I’, da Globo News, em 27 de março do corrente, a professora Telma Vinha, da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública, também afirmou o que havia dito a Nova Escola, que a colocação dos psicólogos e psicopedagogos como previsto pelo governo de São Paulo, precisa de ajustes.

Estudantes expostos a ambientes domésticos violentos, eles próprios vítimas de maus-tratos, também podem se tornar mais agressivos, indica Betina Barros, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em entrevista ao Portal G1.

Uma matéria veiculada pela TV fechada Globo News, Edição de 28.08.2014 já havia apontado um quadro alarmante em que professores eram vítimas de agressões verbais e intimidações. Escolas públicas e particulares ainda sofrem do problema.

Segundo a Globo News, citando uma pesquisa global feita com mais de cem mil professores e diretores de escolas do Ensino Fundamental e Médio, o país ficava numa situação vexatória e colocava o Brasil no topo de um ranking de violência em escolas. De acordo com a pesquisa realizada naquela época, 12,5% dos professores brasileiros haviam afirmado serem agredidos verbalmente ou intimidados por alunos pelo menos uma vez por semana. Foi o índice mais alto entre os 34 países pesquisados. A média tinha sido de 3,4%. Depois do Brasil, veio a Estônia, com 11%, Austrália, com 9,7%.

O mais surpreendente é que a pesquisa constatou que na Coreia do Sul, na Malásia e na Romênia, o índice de violência contra professores foi 0%. O estudo internacional sobre professores, ensino e aprendizagem também mostrou que apenas um em cada dez educadores no Brasil acreditava que a profissão era valorizada pela sociedade. A média global foi de 31%.

A pedagoga Sorahya Bellard afirmou naquela ocasião que a violência contra professores ficou evidente nas escolas públicas, mas também que ocorria bastante nas escolas particulares.

Disse ela na época: “Hoje existe uma transferência de papéis muito grande. Papéis que seriam da família, hoje, têm sido delegados ao professor, como, por exemplo, a implantação de valores, de limites. E o aluno não vê esse professor como autoridade. Já é histórico, conhecido da sociedade, que o professor, ano após ano, vem sendo desvalorizado no âmbito econômico, condições de trabalho, formação”, concluiu.

5. Conclusão

Hoje observamos e constatamos que a violência física, moral e psicológica contra os professores é apenas a ponta de um enorme Iceberg e que se nada for feito a médio e longo prazos a situação tende a piorar ainda mais.

Interessante é que nenhum prefeito ou governador está fazendo nada para impedir essa vergonha nacional e regional de agressão contra professores. Os professores em geral tendem a não relatar essas violências para não serem alvo de críticas e se preservarem.

É muito importante a atuação do Ministério Público e das polícias civil e militar coibindo possíveis violências contra professores e outros profissionais das áreas da Educação e da Saúde. Essa violência praticada contra professores por parte de estudantes menor de idade tem muito a ver com que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente que, na verdade, acaba sendo uma ferramenta de proteção para eles.

Por essa razão é que o Congresso Nacional tem que alterar e modificar o Estatuto da Criança e Adolescência no que for possível e pertinente.

TAGS: Violência, professores, ensino.

Referências:

1. VINHA, Telma. Entrevista ao Portal Nova Escola. Disponível em www.novaescola.org.br.

2. VINHA, Telma. Entrevista ao Programa ‘Estúdio I’, da Globo News. Disponível em www.globoplay.globo.com/canais/globonews

3. BARROS. Betina, pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em entrevista ao Portal G1. Disponível em coms://g1.globo.com/utm_source=globo.com&utm_medium=header

4. BELLARD, Sorahya. Entrevista a Globo News. Disponível em www.globoplay.globo.com/canais/globonews

NOTA:

Telma Vinha é professora, da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenadora do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública.

Betina Barros é pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Sorahya Bellard é pedagoga.

 

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