Artigo: A
tragédia do impeachment do ex-governador Muniz Falcão na Assembleia Legislativa
em Alagoas e a violência no Estado. Roberto Cavalcanti
é advogado, jornalista, relações públicas, blogueiro e escritor. www.ditoconceito.blogspot.com.br.
O fato
aconteceu em setembro de 1957, quando os deputados estaduais de Alagoas se
reuniram em Maceió para votar o impeachment do então governador Muniz Falcão.
Oséias
Cardoso, principal adversário político do governador Muniz Falcão, liderou a
oposição composta por 21 deputados. Na época, a Câmara, como era chamada,
contava com 35 parlamentares.
O grupo
que se voltou contra o governador Muniz Falcão alegava irregularidades no poder
executivo e uma intensa brutalidade contra as opiniões divergentes ao governo.
A reação dos oposicionistas às
pretensões de Muniz Falcão veio com um pedido de impeachment do governador, que foi elaborado
pelo deputado Oséas Cardoso e protocolado em 9 de fevereiro de 1957.
Os
cinco pontos da denúncia de Cardoso eram os seguintes:
1.
Atentato contra o livre funcionamento da Assembleia Legislativa;
2.
Emprego de ameaças e violências contra deputados estaduais, a fim de afastá-los
da Assembleia e de coagi-los no exercício de seus mandatos;
3.
Infração de lei federal de Ordem Pública;
4.
Realização de despesas não autorizadas por lei;
5.
Emprego de ameaças para constranger Juiz de Direito a deixar de exercer seu
ofício.
Foi então que, em uma sexta-feira 13, no decorrer
da votação, houve um intenso tiroteio dentro das dependências da “Casa Tavares Bastos”, que durou
aproximadamente 10 minutos. Resultado da contenda: um deputado morto e oito
feridos.
Segundo
especialistas em aproximadamente 10 minutos, mais de mil tiros foram disparados.
Após o
tiroteio, o cenário da Assembleia era de caos e destruição. O jornalista Márcio
Moreira Alves, do Correio da Manhã,
cobria a batalha e foi baleado na perna. Ainda ferido, conseguiu enviar um
telegrama para relatar o episódio com exclusividade para seu veículo quase em
tempo real. Pelo feito, venceu o Prêmio Esso de jornalismo em 1957.
O fato
foi detalhadamente reconstruído pelo brilhante jornalista Jorge Oliveira em seu
livro "Curral da Morte: O Impeachment de Sangue, Poder e Política no Nordeste", produto
inédito de 30 anos de pesquisa e coleta de informações sobre o caso.
No referido livro diz o autor: “Essa
prepotente amostra de poder daqueles que controlavam a ferro e fogo os seus
currais eleitorais – e que nessa data deixaram as vias clandestinas e se
instalaram à vontade em recinto oficial – teve como resultado um deputado morto
(o governista Humberto Mendes) e dezenas de feridos. Imagens registradas no dia
do conflito mostram parlamentares com suas armas mal escondidas sob capas de
chuva entrando na Assembleia num início de tarde de sol escaldante. A
beligerância era motivada pela votação do impeachment do governador alagoano
Muniz Falcão, acusado pelos oposicionistas de tentar encarnar um “Robin Hood
nordestino” ao criar novo imposto sobre a produção das oligarquias do açúcar
destinado à área social. Falcão não tinha nada de esquerdista, estava mais para
o populismo autoritário de Getúlio Vargas ou Juan Domingo Perón, presidente da
Argentina”.
O fato
ocorrido em Alagoas terminou repercutindo na mídia impressa dos EUA, sendo
manchete de capa do jornal norte-americano
“The New York Times”.
Eu mesmo
quando trabalhei à disposição do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas,
entre 1991 a 1996, fiz uma intensa pesquisa nos jornais da época “Gazeta de
Alagoas”, “Jornal de Alagoas” e “Correio de Alagoas”, um ex-parlamentar e
ex-governador de Alagoas, que não o cito por consideração à sua memória.
Depois
desse dia fatídico – uma sexta feira, 13, os alagoanos nunca mais foram os
mesmos e os mais velhos não se esqueceram desse fato. A barbárie prosseguiu por
mais de 20 anos. O incidente é um marco para a história política de Alagoas e
do Brasil.
Todavia a
decisão foi posteriormente revogada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF). O órgão julgou a votação do impeachment inválida, sob
o argumento jurídico de que os deputados pró-governo não estavam presentes.
Muniz
Falcão terminaria reconduzido ao poder. Numa última etapa do processo, em que o
impeachment foi avaliado sob outro ângulo e outros prisma, uma comissão mista
formada por parlamentares e desembargadores acabou por absolvê-lo.
Ele retornou
ao cargo no início de 1958 e lá permaneceu até 1961. Embora outros tiroteios
diretamente entre parlamentares não tenham ocorrido, a violência política não acabou,
e, posteriormente, muitos políticos e seus familiares acabaram assassinados sob
circunstâncias misteriosas.
E o
Estado de Alagoas hoje ainda é um dos mais violentos do Brasil em assassinatos,
nunca se estuprou e matou tantas mulheres como agora e as autoridades não fazem
absolutamente nada para acabar com isso, inclusive o Poder Judiciário alagoano que tem muitos magistrados que se
acovardam no momento de tomar uma decisão, enquanto outros são protegidos pelo
aparato de segurança pública, seja ele federal ou estadual, por terem tido a
coragem de condenar pessoas da mais alta sociedade e de alta periculosidade.
Referências:
1. Wikipedia. Pesquisa realizada entre 10
a 13 de setembro de 2020 em
www.google.com.br.
2. Oliveira, Jorge. Curral da Morte: O Impeachment de Sangue, Poder e Política
no Nordeste.
3. Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Pesquisa nos jornais Gazeta de Alagoas, Jornal de Alagoas e Correio de Alagoas.
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